A Sua Opinião Não É Importante Para Nós

❝ Existe um vídeo na internet que ficou famoso chamado “48 coisas que as mulheres escutam ao longo da vida – que os homens não escutam”. Sinto informar as minhas colegas oprimidas, que, apesar de elas possuírem desvantagens sociais relacionadas ao seu género, a maioria do que foi dito ali não é uma desvantagem unicamente delas. Como eu sei disso? Bom, eu sou homem e também tive que ouvir várias daquelas frases a minha vida inteira e, na maioria das vezes, vindo da boca de mulheres.

E isso aconteceu por que muitas das coisas que foram ditas, não são falas dirigidas especificamente às mulheres, e sim a qualquer pessoa de qualquer género ou etnia, que se distancie do padrão escroto de normalidade, definido pela sociedade. Por exemplo:

– Gordos de ambos os géneros ouvem a sua vida toda que têm que emagrecer.

– Mas se você for muito magro também vai ter que aguentar na sua vida, toda a gente dizendo que devia engordar.

– Introvertidos de ambos os géneros ouvem a sua vida toda, que têm que socializar mais, falar mais, sair mais, fazer mais amigos.

– Mas se você for muito extrovertido, também vai ouvir que é muito dramático e devia controlar mais as suas emoções.

– Pessoas que não sorriem ouvem que deviam sorrir mais.

– Pessoas que não transam ou namoram ouvem que deveriam transar mais ou arranjar um namorado.

– Pessoas que têm uma aparência diferente, quer seja o cabelo, roupa, ou apetrechos diferentes, ouvem que deviam mudar.

Quanto mais você divergir do que é socialmente aceite, mais merda vai ouvir das pessoas. Mas não importa o quanto siga o padrão da normalidade, sempre vai existir um filho da puta (na verdade, vários) querendo dizer como você devia ser, se vestir e se comportar, sempre com “a melhor das intenções”, sempre querendo “apenas ajudar”, sempre porque ele ou ela “quer o melhor para si” e sempre por que ele ou ela é imbecil demais pra perceber o egocentrismo, que existe em achar que sabe o que é o melhor para alguém, sendo que não sabe nem o que é o melhor para si mesmo.

E o facto desse filho da puta fazer parte de uma minoria ou de um grupo privilegiado não faz diferença, por que a babaquice é universal. Reduzir esse tipo de comportamento unicamente a “machismo” ou “opressão” é ignorar o facto de que pessoas pertencentes a minorias também podem ser babacas. O facto de você não ter privilégios não te torna automaticamente alguém legal.

É por isso que não entendo quando algumas pessoas dizem que “os gays são as melhores pessoas”, “gays dão os melhores amigos”. Existem gays que são babacas, simples assim. Assim como héteros, negros, brancos, homens, mulheres, trans e qualquer um dos 70 e tantos géneros novos por aí. Acho que a única coisa mais democrática que a babaquice, é a morte.

Então esse não é um tipo de comportamento que se possa erradicar simplesmente combatendo o machismo ou privilégios. É preciso de algo mais amplo e eu proponho uma solução, que pode parecer estranha, mas é extremamente simples, não é preciso implantar leis ou fazer processos:

Não dê a sua opinião.

– Achou alguma mulher gostosa no meio da rua? Não diga isso a ela.

– Achou que o seu amigo podia perder alguns quilos? Não é problema seu.

– Não gosta das expressões faciais dele? Não é problema seu.

– Acha que ele ficaria melhor com outro corte de cabelo ou roupas diferentes?

Não é. Problema. Seu.

Eu sei, pode ser difícil, porque o ser humano possui diversos vieses cognitivos na sua mente, e um deles é o da autoconfiança, de achar que estamos sempre acima da média: Normalmente achamos saber mais do que realmente sabemos, ter um nível de precisão maior, uma compreensão mais exacta da realidade, ou seja, nos achamos mais do que realmente somos. Achamos que somos importantes e que temos o direito de sermos ouvidos (e é uma grande ofensa se não nos escutam, não é?) porque os nossos conselhos fazem toda a diferença na vida das pessoas à nossa volta. Somos especiais e podemos (ou ainda “temos a obrigação!”) de dividir os nossos dons com o mundo.

Mas não somos. Você não é. E acreditar no contrário talvez seja a origem de toda essa babaquice.

Claro que isso muda se alguém pediu a sua opinião sobre determinado assunto, mas do contrário, não importa. Você não é importante. O seu gosto estético não é mais correto, objetivo ou “universal” do que o das outras pessoas. Os seus conselhos não são infalíveis e se funcionam pra alguém além de si, pode ser que seja apenas uma coincidência. A sua idade não importa. O facto de ter dado certo pra si não importa.

A sua opinião não é importante para nós. ❞

davidconatus
In: De Saco Cheio e Mau Humor

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